quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Matisse




Com quantos megapixels se faz um Matisse?

Aquela senhora certamente escapara de um quadro do Botero. Rsrs
Com a silhueta impiedosamente delineada pela calça fuseau e pela camiseta três números a menos que o necessário, parou por alguns segundos diante do quadro intitulado Nu sentado Contra Fundo vermelho, pintado em 1925 pelo mestre Henri Matisse.
Sacou sua câmera digital cor de rosa de origem sino duvidosa e sapecou uma foto. Conferiu a imagem no pequeno visor de LCD e seguiu rolando pela exposição Matisse hoje, na pinacoteca do estado de São Paulo, capturando com apenas 4 megapixels e em poucos


minutos a obra visual que o gênio francês levou uma vida inteira para conceber e produzir.
Por que ela não parava para olhar os quadros? Não custava nada. Sério. Era sábado, dia de entrada franca. Aqueles quadros demoraram séculos para chegar àquelas paredes.
Custava parar um pouquinho para apreciá-los? Mesmo sendo uma retrospectiva pequena ou uma “microspectiva”, como dizia o texto de entrada, Matisse Hoje é a primeira mostra significativa do pintor no Brasil. Mas ela seguia como Van Damme: nada poderia detê-la. Clique, clique, clique.
Logo, percebi que não era só ela. Pelo menos um terço dos visitantes não observam os quadros em si. Estavam vendo a exposição através das telinhas de seus Blackberries, Nokias e Motorolas. Alguns postavam diretamente para suas paginas no Facebook os quadros que nem tentavam apreciar. “Ele deve ter morrido agora”, chutava outra senhora, errando por apenas meio século, enquanto fotografava uma colagem.
O advento da câmera digital plenamente acessível a toda população do planeta está banalizando o poder das imagens. Do mesmo jeito que o dinheiro na praça desvaloriza uma moeda, os trilhões de fotos geradas todos os dias desvalorizam cada unidade singular. Ao ponto de não conseguirmos mais olhar para uma imagem e sentir tantas emoções assim. Os visitantes fotografam, não para contemplar as obras mais tarde, mas para apenas provar que estiveram lá. Assim acontece com nossos textos, levamos dias, meses, noites sem sono pensando uma forma de colocar bem as palavras, e em questão de segundos alguém vem, seqüestra tuas idéias e nem sequer lhe dá a chance de pagar um resgate.
Quando Matisse mostrou pela primeira vez seus quadros fauvistas no Salon DÁutomme, em 1905, em Paris, algumas das visitantes chegaram a desmaiar. Para gerar esse tipo de reação, uma imagem precisa ser observada com intensa concentração e respeito. Assim acontece com a leitura.

(inspirado no artigo da revista Època SãoPaulo)
(foto ilustradora do Henri Émile Benoît Matisse
(1869-1954) Foto de um Matisse Carmelina

2 comentários:

  1. Junto com Picasso, Matisse é considerado por muitos o grande génio artístico do século XX. O uso revolucionário que deu à cor para evocar emoções inspiraria as gerações de pintores que se seguiram.
    Acredite ou não, La musique é dos meus preferidos de Matisse. Sou uma ignorante nesta (e noutras) matéria, nem sei se esta obra se pode considerar representativa, na sua essência, do fauvismo.
    Contudo, os rótulos não me importam, mas sim a relação pessoal que consigo estabelecer com a obra.

    exelente texto meu poeta...
    beijos.

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  2. Meu querido,
    Como eu te disse, quando escrevemos, sempre há um sentimento envolvido, tristeza, dor, amor, alegria, raiva, qualquer sentimento serve, qualquer sentimento tem a necessidade de expressar, de ser posto pra fora, de dar vazão a coisa toda.Algumas pessoas não conseguem externar os seus sentimentos e procuram atraves das palavras, bem colocadas, como vc disse, de outras pessoas, colocar como se os sentimentos fossem seus.Quer copiar, adptar? Tranquilo! Mas, por favor, de os devidos créditos, não dói nada!

    Beijos meus.

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